Poesia Expandida:
Poéticas e Políticas
da Repetição

Colóquio Internacional (online)

23-25 novembro 2022

org. Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Cartaz a partir de poema de Abílio-José Santos incluído em V(l)er (1987)

Chamada de comunicações

A história da poesia é uma história da repetição. A repetição sempre esteve presente na poesia, não só através dos mecanismos repetitivos da própria linguagem, mas também por meio da métrica, rima, estrutura, aliterações, anáforas, paralelismos, entre outros tipos de repetição de natureza estrutural, fonética, retórica ou lexical. Por outro lado, a repetição revela-se também fundamental para entender os períodos e movimentos literários e as relações que estes estabelecem entre si. A esse respeito, importa enfatizar como até os discursos das vanguardas, com a sua proposta de variação radical, se ligaram com frequência a períodos históricos anteriores. Num certo sentido, o que estes poetas e artistas propuseram foi recuperar e reconfigurar o trabalho dos seus precursores através de um gesto crítico de repetição variacional.

Dick Higgins (1987) usou o termo “poesia de padrões” para se referir à longa tradição de cruzamento visual e verbal em obras que precedem e antecipam as inovações das primeiras vanguardas do século XX. Estes trabalhos revelam, por um lado, a densa história de hibridismo do texto-visual e assinalam, por outro, o carácter pervasivo da repetição enquanto elemento central na estruturação daqueles trabalhos. Outros poetas, artistas e investigadores, como Haroldo de Campos e Ana Hatherly, empenharam-se em missões semelhantes. Não repetiram obrigatoriamente Higgins, mas a sua arqueologia das formas poéticas recuou também até à Antiguidade Clássica.

Já depois de transposto o segundo milénio, N. Katherine Hayles (2012) referiu-se a uma “leitura de padrões” para explicar como lemos hoje e, até prova em contrário, como leremos no futuro. Qualquer que seja o suporte medial do texto, a sua escrita e leitura respondem sempre a padrões, isto é, a repetições. Nesse sentido, podemos dizer que a repetição atravessa todo e qualquer texto. Simultaneamente, é também a repetição que produz pontos de contacto – de conflito e de diálogo – entre textos e entre tempos.

A figura moderna do autor, associada à noção de obra original de lastro singular e irrepetível, não oferece muito espaço à repetição. Contudo, a repetição esteve sempre presente nas práticas dos poetas. Expandindo alguns dos principais procedimentos que encontramos na poesia concreta e experimental da segunda metade do século XX, as estratégias que no século XXI caracterizam a poesia conceptual e digital, por exemplo, assentam muitas vezes em gestos de apropriação e remistura, entre outras práticas iterativas de escrita. Com isto, ativam e exploram de maneira radical as possibilidades de repetição.

Se, como apontou Marjorie Perloff (2010), ao contrário dos artistas em geral, se exige aos poetas que eles sejam originais ao produzir palavras, frases, imagens e locuções que nunca ouvimos antes, o que dizer de poemas que usam a repetição enquanto mecanismo de produção de sentido? E o que dizer daqueles que, para fazê-lo, não se restringem à linguagem verbal, antes se empenham em questionar e expandir os materiais e os meios de inscrição da escrita?

Este colóquio tomará como eixo aglutinador a reflexão sobre o conceito de repetição no quadro das poéticas expandidas do tempo presente. Um dos principais objetivos do colóquio será debater a expressividade material e medial das práticas poéticas contemporâneas, sublinhando, de igual modo, as implicações culturais, sociais e políticas dos gestos de repetição. A discussão compreenderá, por isso, não só a repetição, mas também a variação, procurando estimular a reflexão em torno das relações dialógicas que estas noções estabelecem entre si.

O colóquio privilegiará propostas atentas às expansões das fronteiras artísticas, mediais e disciplinares que caracterizam as práticas pós-literárias no século XXI. Estamos particularmente interessados em abordagens comparativas entre meios, bem como em reflexões críticas sobre práticas de remediação e transmediação. Entende-se que são estes os objetos que melhor permitem sinalizar hoje o conceito de repetição. Ao fazê-lo, estes trabalhos potenciam uma cronologia retrospetiva que revela o longo rasto das práticas de repetição e variação através dos tempos.

Alguns dos tópicos previstos incluem (entre outros possíveis):

Repetição e relações intra e intertextuais
Repetição e inter, trans e pós-medialidade
Repetição e transformação material
Repetição e hibridismo medial
Repetição e pós-literário

Repetição como diferença
Repetição como ligação e vínculo
Repetição como rejeição e fenda
Repetição como prática e processo
Repetição como programa e projeto
Repetição como transposição medial
Repetição como tradução intersemiótica

Repetição através da apropriação e remistura
Repetição através da permutação e combinatória
Repetição através da serialização e sequencialização
Repetição através da cópia, reprodução e recontextualização

Repetição na poesia concreta, experimental, conceptual e digital
Repetição nas poéticas visuais, performativas, sonoras e multimodais
Repetição nas práticas i(n)terativas de escrita e nos meios programáveis em rede
Repetição nas tradições que ligam as poéticas contemporâneas aos seus antecedentes históricos

Envio de propostas

Acolhemos propostas sob a forma de resumo (máx. 300 palavras) acompanhado por nota biográfica (100 palavras) e enviados para expanded.poetry.ilcml@gmail.com.

A data limite para os envios é 15 de junho 2022. A decisão será comunicada até 20 de julho 2022.

Aceitamos comunicações em português, inglês, francês e espanhol.

Os conferencistas convidados (confirmados) incluem Felipe Cussen (U. Santiago Chile), Jacob Edmond (U. Otago), Rita Raley (U. California, Santa Barbara) e Rui Torres (U. Fernando Pessoa).

Para esclarecimento de dúvidas, contactar o organizador em brunoministro@letras.up.pt.

Organização

Instituição de acolhimento

Comissão Científica

Alckmar Luiz dos Santos (U. Federal Santa Catarina)

Alethia Alfonso García (U. Iberoamericana)

Álvaro Seiça (U. Bergen)

Ana Marques (U. Coimbra)

Annette Gilbert (FAU Erlangen-Nuremberg)

Arturo Casas (U. Santiago Compostela)

Claudia Kozak (U. Buenos Aires)

Craig Dworkin (U. Utah)

David Pinho Barros (U. Porto)

Diogo Marques (U. Nova Lisboa)

Eunice Ribeiro (U. Minho)

Eva Figueras Ferrer (U. Barcelona)

Georgina Colby (U. Westminster)

Graça Capinha (U. Coimbra)

Jan Baetens (KU. Leuven)

João Paulo Guimarães (U. Porto)

Jussi Parikka (U. Aarhus)

Manuel Portela (U. Coimbra)

Maria Elena Minuto (U. Liège / KU. Leuven)

Patrícia Lino (U. California, Los Angeles)

Pauline M. Bachmann (U. Zurich)

Pedro Eiras (U. Porto)

Pénélope Patrix (U. Lisboa)

Rebecca Kosick (U. Bristol)

Roberto Cruz Arzabal (U. Veracruzana)

Rosa Maria Martelo (U. Porto)

Sandra Guerreiro Dias (IP Beja / U. Coimbra)

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