Cadernos de Literatura Comparada, #52
(junho 2025)
Questões climáticas e construção de novas formas literárias
Com o agravamento da crise climática generalizada, a literatura tem experimentado formal e tematicamente consequências resultantes da necessidade de representar e questionar as complexidades da deterioração ambiental, das alterações climáticas e da possibilidade de uma catástrofe ecológica global, por vezes propondo um novo imaginário do ecossistema (Barontono & Schoentjes, 2022). Com efeito, os topoi relativos ao clima não só estão a ser trabalhados na criação literária contemporânea, como estão a dar origem à emergência e desenvolvimento de novas formas e géneros literários, frequentemente em cruzamento com tradições como a da ficção científica. Tal pode ser evidenciado em obras como A Parábola do Semeador (2018), de Octavia Butler; Oryx e Crake. O último homem (2020), de Margaret Atwood; Memória da Água (2014) de Emmi Itäranta ou ainda a trilogia O Problema dos Três Corpos de Liu Cixin (2006-2010).
Os organizadores do presente nº dos Cadernos de Literatura Comparada – revista do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa – convidam à apresentação de artigos que explorem a forma como as questões climáticas – tais como o aquecimento global, a escassez de recursos, os desastres ambientais e a justiça ecológica – estão a impulsionar o desenvolvimento de formas, géneros e práticas literárias inovadoras. Essa tendência tem-se traduzido, por exemplo, na denominada climate fiction (Milner & Burgmann, 2020; Langlet, 2020), em certas narrativas de descolonização ambiental, nalguma literatura visual com dinâmicas de multimodalidade, podendo explorar modalidades de storytelling digital interativo ou assumindo formas híbridas como o do romance gráfico (Sarayeva, 2017), a não-ficção ambiental ou narrativas que exploram a resiliência e a adaptabilidade. A título de exemplo desta dimensão experimental, considere-se o diário/romance gráfico Saison brune (2012) de Philippe Squarzoni ou The Rime of the Modern Mariner (2012), de Nick Hayes, uma releitura do poema de Coleridge. No que diz respeito à questão da continuidade ou revisitação de formas e problemas antigos relacionados com a representação da natureza, saliente-se os contributos de Johns-Putra (2019) e Nersessian (2015, 2020)
Assim, convidam-se os investigadores interessados nestas problemáticas a contribuírem, a partir de uma abordagem comparatista, para uma reflexão em torno da pluralidade de declinações que as questões climáticas têm desencadeado na produção literária contemporânea.
Eixos temáticos propostos incluem, mas não se limitam a:
– Respostas literárias a catástrofes ecológicas e justiça ambiental
– Respostas na não-ficção criativa, ensaios e memórias
– Respostas narrativas no campo da Climate fiction e da descolonização ambiental
– Respostas digitais e multimédia à crise climática nas práticas literárias
– Poética e estética da Climate fiction
– Narrativas de resistências e alternativas ecológicas
– Questões climáticas e hibridismo dos géneros
– Metaforização das representações do clima
Todos os artigos devem ser enviados, por e-mail, para cadernospreviewjune@gmail.com até 31 de maio de 2025.
Os artigos submetidos devem estar de acordo com as normas de publicação dos Cadernos de Literatura Comparada, disponíveis em: https://ilc-cadernos.com/index.php/cadernos/about/submissions .
Os artigos não adaptados a estas normas de edição serão rejeitados.
Serão aceites trabalhos inéditos em português, inglês e francês.
Este número 52 dos Cadernos de Literatura Comparada é organizado por:
Fátima Outeirinho (UPorto)
José Domingues de Almeida (UPorto)
Simão Valente (UPorto)
A chamada de artigos está disponível também em inglês e francês.