Jornada de Tradução III
Traduzir e/em liberdade
22 de novembro 2024
Sala DEPER
Org.: Maria de Lurdes Sampaio
Num ano em que se comemoram 50 anos da revolução de abril, a terceira jornada dedicada à tradução e cultura vai centrar-se sobre as relações entre tradução e liberdade, tomando este último termo quer num sentido individual quer coletivo, quer sob uma perspetiva teórica quer prática. Se, como escrevem Gideon Toury, André Lefevere e outros téoricos da tradução, não há, nem poderia haver, um ato translatório livre em termos absolutos (para Toury, “translation [is] a norm-governed activity”), em contextos ditatoriais, as traduções não escapam à máquina censória instalada. De forma ostensiva ou discreta, são criados muros e fronteiras invisíveis para o cidadão comum, que impedem a circulação ou mesmo a entrada de certas obras num país regido por ditadores. Não são as traduções de caráter técnico ou científico as mais afetadas, mas as traduções de certos autores e dos seus textos literários, qualquer que seja o país de origem. E isto prova, por si só, o receio que as ditaduras têm dos escritores, e o caráter subversivo ou transgressivo da boa literatura. Durante o Estado Novo, nunca se deixou de traduzir, mas muitas foram as obras mutiladas e deformadas, por vezes, sem questões políticas implicadas, mas em nome do decorum e dos bons costumes – quando não devido à ignorância dos censores.
Num país democrático e livre, não há entraves de ordem moral e política, e tudo é passível de tradução e de circulação – sendo a tradução em geral um fenómeno positivo e indispensável. Como há muitos anos escreveu António de Sousa Ribeiro, num universo de (pseudo)globalização, qualquer cultura é incompleta, constituindo-se como, “interacção e relacionamento com o diferente”. Ou como diz ainda “A tradução é [entre muitas outras coisas, e conforme os contextos e usos] um fenómeno não apenas intercultural, mas também intracultural; a tradução [é uma] condição de auto-reflexividade das culturas”.
Que país e que cultura revelam as traduções? Que tabus e realidades? Que sistema literário? Eis algumas das questões a nortear a Jornada de Tradução III: Traduzir e/em Liberdade.