É possível que o título do primeiro estudo deste livro, Herberto Helder áudio/visual, suscite alguma estranheza. E, todavia, ele segue de perto a poética herbertiana no seu pensar a poesia entre imagem e voz, e em diálogo com artes como o cinema, a pintura, a música, a dança, a escultura e mesmo a fotografia. Se podemos conceber vários entendimentos da imagem na poesia – no plano icónico, no plano retórico e figural, ou do ponto de vista ecfrástico e intermedial –, difícil será concebermos uma poesia que prescinda da imagem. A poesia ou explora a imagem do ponto de vista retórico, em articulação com a metáfora e com a construção verbal de imagens dirigidas ao olhar da mente, ou procura essa articulação no plano das materialidades do processo comunicativo (página impressa, vídeo, filme, performance, etc.), ou faz comparecer a imagem por referência a criações visuais e audiovisuais específicas, ou a artes visuais nocionalmente evocadas. O que conduz a diferentes formas de usar a intermedialidade como suporte das relações entre palavra e imagem, e também a um pensamento acerca da emergência da voz e da imagem na poesia. Questões equacionadas no ensaio que abre este livro e que atravessam depois grande parte dos restantes estudos.
DOI: https:/doi.org/10.21747/978-972-36-2107-5/her