Seminário Aberto_ Carla Miguelote

16 de novembro

Cine-ilustração e teatralização da existência na escrita de Ricardo Domeneck

16 de novembro 2023

16h30 | sala G111

 

Dentre as diversas possibilidades de manifestação do que se pode chamar de “efeito-cinema” na poesia brasileira contemporânea, destacamos, para esse seminário, aquilo que o poeta Ricardo Domeneck denomina, em seu livro Manual para melodrama, como cine-ilustração. Paródia dos livros de autoajuda, designado pelo próprio poeta como um livro de autoestorvo, Manual para melodrama apresenta sete lições sobre como reagir ao ser abandonada(o) e substituída(o) na esfera amorosa. Para cada uma das lições, o poeta oferece uma “cine-ilustração”, ou seja, indica um filme ou uma cena fílmica que ajude a(o) leitor(a) a compreender o método em questão. Como o título sugere, trata-se de lições carregadas de hipérboles, com projetos de vingança desmedidos ou enlevos de autocomiseração desmesurados. Beirando o absurdo do exagero, o conjunto nos arrebata pelo humor, provocando o riso da(o) leitor(a). Rico em diálogos intertextuais e interartísticos, com referências que vão da tragédia grega, sobretudo Medeia de Eurípides (e suas adaptações fílmicas), ao melodrama Carne trêmula, de Pedro Almodóvar, passando pelo teatro de Nelson Rodrigues, especificamente em Toda nudez será castigada, e sua adaptação cinematográfica por Arnaldo Jabor, Domeneck compõe um mosaico de narrativas de desilusão amorosa e de personagens de coração ferido. Debruçar-se sobre o livro implica, entretanto, reflexões que vão muito além das dores de amores e alcançam temas como o contorno dos gêneros da tragédia e do melodrama, a intermidialidade, a adaptação e a paródia. Ressalta-se que a obra de Domeneck se destaca também como um dos marcos da literatura queer nas últimas décadas do Brasil. Com efeito, em Manual para melodrama parece estar em jogo aquilo que Susan Sontag, em ensaio de 1964, chamou de sensibilidade camp, tanto no que diz respeito à teatralização da experiência e à predileção pelo artifício e pelo exagero tanto no que concerne a um tratamento indistinto entre produções da cultura erudita e da cultura de massa (tratamento correlato de um tom jocoso, que implica uma complexa relação entre o que é considerado sério e o que é entendido como frívolo).

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