Jornada “A Literatura e a construção da Europa”

4 de novembro

Está agendada para dia 4 de novembro a Jornada “A Literatura e a construção da Europa: escrita de viagens à luz de um olhar europeu”, a decorrer na Sala de Reuniões 1 da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

O evento é de entrada livre e o programa pode ser consultado aqui.

“Numa altura em que a ordem europeia, que com todas as suas fragilidades logrou assegurar um longo período de paz, cedeu lugar ao caos e à guerra, urge repensar história e identidades de um continente que como espaço geográfico se revela delimitado por fronteiras exteriores bem definidas, mas cujas fronteiras internas (geopolíticas, socio-culturais e identitárias) se encontram longe da estabilização. A literatura, em toda a sua versatilidade, cedo se apropriou da ideia da Europa, do Atlântico aos Urais, da Lapónia ao Mediterrâneo, e as deslocações, não só dentro do espaço europeu, também desde cedo estiveram na mira dos escritores. (Lembremos, por exemplo, a Odisseia e outras epopeias, textos sobre as Cruzadas ou os Descobrimentos). No dizer de Ottmar Ette, a literatura de viagens que até à segunda metade do século XIX era considerada apenas na sua vertente documental e /ou sociocultural, constitui hoje uma das formas literárias que melhor espelham os problemas da modernidade europeia, assim como as experiências, projeções, anseios e desafios da transculturalidade (Ette 2019). Não por acaso o referido autor sublinha o conceito de uma “frictional literature” (Ette 2003) que per se aposta na convergência entre o real e a ficção, resultante de olhares que se pousam sobre uma geografia física e humana, corporizada nas deslocações pelos textos de um variegado mosaico de autores.

Queremos, contudo, focar a nossa atenção nos períodos a partir do Grand Tour, desde os finais do séc. XVII, quando, movidos pela curiosidade e por espectativas formativas e culturais, aristocratas e burgueses abastados, inicialmente de Inglaterra, mas logo depois de toda a Europa, iniciam as suas viagens ao estrangeiro. Pensemos, por exemplo, em Goethe e na sua viagem a Itália, com passagem pela Suíça ou em Laurence Stern na sua excursão pela Itália e por França ou até mesmo em Tobias Smollet pelos mesmos lugares, contribuindo assim para a afirmação de um tipo de narrativa assente numa experiência de viagem (Blanton 2002).

Segue-se o turismo de massas votado à classe média, que dá os primeiros passos na segunda metade do séc. XIX e para o qual contribuiu decisivamente o inglês Thomas Cook. Foi também o início dos guias de viagem, como os Baedeker na Alemanha e os Michelin em França, entre outros. No século XX, e apesar das duas Guerras, dá-se a verdadeira massificação do turismo e também dos textos sobre as experiências que as viagens propiciam.

Nos dias de hoje são por certo outras as motivações das viagens, desde logo, porque a imensa informação disponibilizada pelos meios digitais, se por um lado pode parecer mitigar necessidades de informação, gera também, por outro lado, novos desafios, interpelações e curiosidades. Na verdade, nada se sobrepõe às experiências dos viajantes, no seu contacto com outras regiões, outras culturas, outras histórias, outras línguas e outras gentes. Em muitos desses viajantes surgirão, frequentemente, interrogações sobre a Europa, a identidade europeia e as identidades nacionais.

Nesta jornada propomo-nos analisar:

  • textos de viagem (desde o século XVII) de escritores europeus sobre a Europa e sobre a identidade europeia, eventualmente em articulação com a identidade nacional e/ou com outros problemas e anseios epocais;
  • as figuras dos viajantes (e dos seus leitores), suas origens económicas, sociais e políticas e as motivações e expectativas face à viagem;
  • desenvolvimento e características do género.”

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