O que é a identidade e o que são as identidades sexuais? Que corpos são incluídos e excluídos da noção de materialidade (seja ela física, científica ou literária)? Quem detém o direito à voz e como é construído esse direito? Quais as fronteiras instituídas entre géneros e sexos, ciência e literatura, local e global, e quem ou que mecanismos as definem e legitimam? Como fomentar o diálogo entre campos disciplinares diversos? Foram perguntas desta natureza que conduziram as reflexões propostas neste livro, Heranças e Legados: Políticas (Inter)Sexuais Hoje, promovendo a discussão em torno da ideia de comunidades (sociais, literárias e científicas) e das políticas de inclusão, do ponto de vista do género, do sexo e das sexualidades.
Organizado em seis capítulos, o livro abre com uma belíssima reflexão de Hélène Cixous – uma «herança» em duas versões, duas línguas, duas vozes –, que nos interpela a pensar os legados generosos – por exemplo, os da literatura como Biblioteca – e os legados envenenados, constituídos por tradições impostas que ameaçam o pleno exercício da liberdade de pensamento e de ação. E ainda os legados que nos foram roubados ou que não nos foram deixados em herança. Por isso termina o nosso livro com poesia – um pequeno legado que sonha, com Carlos Drummond de Andrade, «uma pátria sem fronteiras» onde caiba «a multiplicidade toda / que há dentro de cada um». Por outras palavras, uma comunidade outra. E solidária.