Seminário Aberto com Carla Miguelote

20 de maio

Título: Tentativa de imitação de Sophie Calle (a partir de um conto de Vila-Matas)
 

Resumo: Ao aproximar arte, vida e literatura, a artista francesa Sophie Calle suscitou o interesse de escritores, notadamente o estadunidense Paul Auster e o espanhol Enrique Vila-Matas. Entre as personagens do romance Leviatã (1992), de Paul Auster, está a artista Maria Turner, inspirada em Sophie Calle. Nove trabalhos de Turner são descritos no romance, sete dos quais coincidem com trabalhos da artista francesa. Os outros dois eram invenção literária e não tinham sido realizados por ela até então. Entretanto, ao ler o livro de Auster, Sophie Calle decidiu pôr em prática as obras imaginadas por ele. O jogo entre a artista e o escritor se desdobrou no projeto Doubles jeux, um conjunto de sete livros, divididos em três projetos distintos: “A vida de Maria e como ela influenciou a de Sophie”, “A vida de Sophie e como ela influenciou a de Maria” e “Uma das muitas maneiras de misturar ficção e realidade, ou como tentar se tornar personagem de romance”. Para esse último, Sophie Calle pediu que Auster escrevesse algo novo, especialmente para ela viver durante o período máximo de um ano. Eximindo-se de tamanha responsabilidade, Auster fez uma contraproposta e escreveu “Instruções pessoais para Sophie Calle sobre como melhorar a vida em Nova Iorque (porque ela pediu)”. Tratava-se de diretrizes simples, que Calle seguiu por uma semana. Entretanto, a artista não desistiu de viver como personagem literário e refez a proposta para outros escritores, entre eles Enrique Vila-Matas, o único que empreendeu o projeto, escrevendo um conto para ela viver. Trata-se de “A viagem de Rita Malú”. Por contratempos de sua vida pessoal, Sophie Calle acaba não levando o projeto a cabo. Vila-Matas incorporou o conto à sua mininovela “Porque ela não pediu isso” e a publicou no livro Exploradores do abismo (2007). Recuperando esse projeto abandonado, decidi eu mesma, durante algumas semanas, viver a vida de Rita Malú, uma artista que dedicava sua vida a imitar Sophie Calle, sobretudo em seus empreendimentos detetivescos. Sua viagem consistia em ir até a ilha do Pico, no arquipélago dos Açores, em busca de um escritor desaparecido. Segui todos os passos possíveis de Rita Malú e fui até a ilha, entremeando, ao deslocamento geográfico, uma viagem literária. Diferentemente de Rita Malú, fiz uma viagem acompanhada das leituras de A mulher de Porto Pim, de Antonio Tabucchi, e de diversos textos da literatura portuguesa que se dedicam às terras açorianas, de As ilhas desconhecidas, de Raul Brandão, a poemas de Rosa Maria Martelo e João Miguel Fernandes Jorge. E, como Sophie Calle, fiz registros diversos, escritos, fotográficos e audiovisuais. Nesse sentido, a conferência se volta, inicialmente, para uma apresentação do trabalho de Sophie Calle e de seu diálogo com escritores contemporâneos. Em seguida, dedica-se a um relato dos modos como obedeci e desobedeci ao roteiro de viagem de Vila-Matas.

 

Carla Miguelote é Professora Adjunta da Escola de Letras da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), da qual foi diretora entre 2020 e 2022. Atualmente desenvolve uma investigação de pós-doutorado no Instituto de Literatura Comparada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Entre suas produções recentes estão “Poetas de pochete: quiném homem, quiném mulher”, Revista Texto Poético (2024), e “Lineage, language: Archival Fabulations in Water is a time machine”, Il Tolomeo: Rivista di studi postcoloniali (Ca’Foscari-2023), este em coautoria com Lúcia Ricotta. Publicou o livro de poemas Conforme minha médica (Confraria do vento, 2016) e a plaquete O mapa do céu na terra (Círculo de poemas, 2023). Dirigiu os curtas feministas Amiga oculta (2017), Qual imagem (2018) e Esguicho (2019), exibidos em mostras e festivais nacionais e internacionais.

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