Romance coral
Ficção de vozes múltiplas
Jornada | FLUP – ILCML – 27 de fevereiro 2023 | Chamada de comunicações (até 2 de novembro)
Embora não se enquadrando verdadeiramente na definição de “género literário”, a taxinomia do romance coral remete, antes de mais, para uma certa construção narrativa que vai multiplicando as personagens de tal forma que o leitor é confrontado com uma proliferação de pontos de vista. Com efeito, se é certo que torna mais difícil o acompanhamento diegético, dada a dispersão, a acumulação das focalizações proporciona à narrativa uma diversidade de personagens, de retratos e de vozes que a enriquece, complexificando a transmissão e a leitura do real.
Nesse sentido, o romance coral afigura-se extremamente criativo, e permite aos escritores que, em número cada vez maior, recorrem a esta técnica narrativa, abordar problemáticas, dando voz, muitas vezes de forma expressamente inclusiva e diversitária, a um leque de intervenientes ou de testemunhas, consolidando deste modo a narrativa numa dimensão humana mais profunda.
A escrita de um romance coral pretende ser forçosamente o resultado de um verdadeiro trabalho narrativo, e inclusive de um exercício de estilo, pois trata-se sempre de conseguir vincular destinos e pontos de vista acerca de um mesmo acontecimento, a partir de um mesmo lugar ou com referência à mesma pessoa ou contexto, com a preocupação de um efeito coerente, para além da multiplicidade dos diálogos ou monólogos. Como não evocar, neste caso, a polifonia romanesca que Mikhail Bakhtine define em Esthétique et théorie du roman como sendo “a pluralidade das vozes e das consciências independentes e distintas numa obra” (1978 [1975]: 35)?
Assim, pois, a estruturação narrativa do romance coral recorre, de modo muito livre, a estratos narrativos adicionais que se encadeiam progressivamente para darem destaque a uma mesma intriga, tanto a partir do ponto focal da primeira como da segunda pessoas, pelo que um conjunto de vozes consegue misturar-se, integrar-se, esconder-se ou sobrepor-se numa articulação complexa de personagens complementares umas das outras.
Logo, percebe-se o êxito das adaptações cinematográficas dos romances corais, muito estimulantes e atraentes no formato de difusão de séries em streaming. Para além de permitir acompanhar várias personagens e focalizações, o romance coral tem a vantagem de dar mais facilmente a palavra a um leque representativo e alargado de figurações identitárias e de contextos socioculturais nos seus cruzamentos, conflitos ou tentativas de aparecerem enquanto sociedade na/pela ficção, contribuindo desta forma para apresentar uma imagem inclusiva de uma determinada sociedade ou comunidade.
O Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa tem, pois, todo o gosto em lançar esta chamada de comunicações, a partir da Faculdade de Letras da Universidade do Porto para 27 de fevereiro 2023, aos investigadores que esta temática não deixará de interessar.
Eixos temáticos:
- Romance coral e teorização;
- Romance coral: leituras críticas;
- Romance coral e intermedialidade;
- Romance coral e representação social;
- Romance coral: identidades e inclusão.
Idiomas de trabalho: inglês, francês, espanhol e português.
Calendário:
02 de novembro 2022: data-limite para a submissão de propostas – resumo de 200 palavras máximo e uma breve nota biobibliográfica de 15 linhas máximo – com vista a uma comunicação de 20 minutos.
15 de novembro 2022: notificação por parte da organização.
Organização:
Maria de Fátima Outeirinho (UP – ILCML)
José Domingues de Almeida (UP – ILCML)
E-mail: ilc@letras.up.pt
Inscrições:
– 75,00€ (Doutorandos: 50,00€)
(A chamada de comunicações está disponível também em inglês e francês.)